terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Dia 12 de Março no Gato Escaldado - Bar


No próximo dia 12 de Março, a partir das 22 horas, estarei no Bar "Gato Escaldado" em Braga para dizer poesia minha e de outros amigos e falar dos meus livros.
Convidei o Flávio Lopes para me acompanhar à guitarra e alguns dizeurs meus conhecidos.
Convido todos os poetas e amigos a deslocarem-se até este simpático espaço, que fica próximo da Makro.(ver link)
O espaço é muito interessante, e o convite surgiu do artista plástico Luís Ramos, depois de tomar contacto com aquilo que escrevo.
De há uns tempos a esta parte assumi plenamente a vertente de recitador, e tenho tido imenso prazer em fazê-lo.
Desde já agradeço a vossa visita e participação.

http://www.gatoescaldadobar.com/

domingo, 15 de fevereiro de 2009

A morte olhou-me hoje no rosto





"O teu sorriso viverá em nós para sempre"


A morte olhou-me hoje no rosto. De soslaio numa curva discreta.
Vinha ao volante da incúria e tinha borbulhas na face. Ainda sinto na pele o seu hálito a mentol, o seu perverso beijo.
Trago-a nos olhos desde a manhã de hoje, mas já não tem expressões, nem traços, nem rosto nem face, a morte que vive agora dentro de mim. Só uns olhos morenos que me espreitam na curva apertada do meu ser. A eternidade de um momento vivido.
É assim que se morre, agora sei.

Amanhã não existe nunca. Assassinaram a esperança num bairro do Porto.
No Aleixo a saltar ao eixo, meu amigo de lata, meu pobre amigo da desgraça, morreu só.
Chamava-se outra vez Luís, mais uma vez Luís, o meu amigo que partiu sem me avisar.
Estou ainda a boiar nesse tanque de desassossego por ti.
Drogar-me-ei de saudade até ao fim dos meus dias, até me secarem as veias de ódio a quem te ceifou a juventude, até a consumir toda.
Chamava-se Luís, outra vez Luís, mais uma vez Luís, o meu amigo que a morte levou. A morte que hoje me olhou, a saltar ao eixo na curva pronunciada da minha demora.
No rosto as lágrimas rasgam-me a carne como punhais.

Não sei porque razão afinada, aqui ao meu lado, Beatriz canta uma canção que aprendeu na escola.
Sigo na melodia para uma página em branco, disposto a dizer à vida que a amo, apesar de conhecer a morte por dentro, e seja isso a primeira das últimas coisas que hoje farei.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Tenho um capeta numa garrafa guardado


Foto: qdivertido.com.br


Latem cães na madrugada anunciando o dia.
Há homens acocorados vigilantes.
São os últimos pioneiros da covardia.

Uivam como lobos, matam os cordeiros.
Acordados no passado de todos os instantes
Dos últimos homens, os primeiros

Untam-se em mesquinhos pensamentos
Futuristas acabados e delirantes
Falsos médicos e seus fatais unguentos

Alguns reclamam até magistratura
Filhos bastardos de Reis, os Infantes
Em coisas de leis e até em literatura

É preciso cuidado ao dobrar da esquina
Montam esperas e tocam concertina
Os chacais das terras mais distantes

Sua música é letal de tão fina
Sua canção de ódio não desafina
É morte anunciada no leito dos amantes

Tenho um destes numa garrafa guardado
É capeta convencido, arrogante e malcriado
Dança samba e canta até o fado
Mas já não o faz como antes fazia

Estou a pensar rifá-lo
Numa feira como velharia
Alguém quer comprá-lo?