sábado, 23 de fevereiro de 2008

Carta a mim mesmo

Caro amigo,
Tenho o grato prazer de lhe comunicar que a sua Inspiração partiu de viagem.
Saiu logo que a manhã se levantou, acompanhada de uma mala cheia de livros e algumas mudas de roupa.
Pediu-me para lhe avisar, que se demorará pela capital “Denãofazerputo”, uma vez que ficou de se encontrar com a Vaidade e a Presunção.
A Fama, ficou de lá ir ter mais tarde, não sendo certo que o Reconhecimento apareça, uma vez que anda muito ocupado.
Pede-lhe a Inspiração que olhe pelos meninos: Criação e Arte, o melhor que puder.
Há poemas no congelador, duas latas de textos por abrir, e uns restos de uma crónica para serem aquecidos.
A Criação tem que tomar o xarope para a garganta, pois tosse muito de noite. A Arte sabe a medida, não se preocupe…
Não deixe as meninas ficarem acordadas até muito tarde, que têm a mania de escrever nos sites da Internet, e vigie por favor os seus excessos em endereços menos próprios, que estão, como sabe, na idade difícil da adolescência.
Sem mais de momento, saiba que na ausência de sua amada esposa, poderá contar comigo para aquilo que necessitar.
Não hesite em chamar-me, caso a tarefa se revele demasiado penosa para si.

Sempre ao seu dispor,
A sua amiga de sempre
Esperança.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Os dias do medo

Foto: João Monteiro


As bestas não têm cara aqui. Andam soltas na rua do medo que cada um tem guardada em si, e por onde tenciona escapar um dia.



No fundo de cada sorriso, a custo um homem tenta erguer-se de novo para a vida, amparado em falsas promessas de grandeza.



Nunca lhe faltaram profetas para o conduzir em cada esquina de tempo, nem novas babilónias a habitar nos olhos…Foi por isso, que quando a faca lhe entrou nas costas, e o mundo girou ao contrário, de ponteiro bem cravado na carne, ninguém estava por perto na rua da amizade, e as horas bateram com estrondo na calçada dos corpos.



O custo de cada lágrima oprimida ao homem moderno, à sua liberdade, há-de um dia fazer transbordar mares, para que se afoguem na sua imensidão os tiranos e os ditadores.



E depois, na alvorada, em cada barca nova caberá um pedaço do sol e crianças fabulando ao vento. A terra nunca prometida desse dia, será fundada na certeza das cores do arco-iris, no vento norte de mudança que cada um tiver no coração.



Cada homem liberto saberá amar uma mulher como ela merece e entenderá nela o fruto generoso da vida.



Esse dia foi ontem.