sábado, 17 de maio de 2008

O poema quase um sustento

Foto: João Luz
Calcei-me de bronze.

Num primeiro segundo, quase brilho

Os meus pés como chumbo, minha boca seca

Vesti-me de tédio, fiz a mim próprio um filho

O silêncio tinha pelos na língua.


Houve um céu que não tinha palato

Houve um sol que prenunciava chuva

Houve um armário guardado num fato

Houve tudo o que não houve.


Se ao menos a chuva se calçasse de bronze…

Palavra a palavra, fosse a escrita um grito

O poema quase um sustento

A verdade uma lança capaz de cortar o tempo.


Fosse o sonho a bronze escrito


E não seria capaz de te dizer

De te amar para o que houver

De te sofrer

Não seria capaz de te ter

Nem sequer trocar:

Poesia por mulher.

1 comentário:

impulsos disse...

Amigo Zé Torres
Eu diria que sim, o teu poema é mesmo um quase sustento... mais que não seja, da alma de uma mulher!

Grandioso é o poeta que se sustenta assim, aquietando a fome de outras almas inquietas.

Beijo