Respiro escrita pelos dedos.
Tenho as palavras nos poros encravadas como pelos.
Não me deixam dormir de tão ofertadas
Fazem barulhos estranhos durante a noite,
Como se fossem térmitas a roer-me despudoradas.
Sempre que olho para o lado vazio da minha cama,
Há mulheres deitadas com palavras, quase térmitas roendo-me.
Cada uma, um verso, um começo, uma prosa sem defeito.
Cada uma um final impossível de ser escrito.
Em cada uma um poema de alcova, insatisfeito mas dito.
E as que me olham desconfiadas,
Acendem cigarros no meu beijo e descruzam as pernas ao texto,
Como se eu tivesse merecido o direito à sorte,
Afinal, a minha vida é um eterno feminino:
- Palavra, escrita, desdita, morte.
A minha vida um desassossegado sopro de menino.
Já amei muitas palavras, fiz amor com o desgosto.
A quase todas despi os segredos, domestiquei os medos.
Fui amigo, amante, marido. Fui guerreiro e tombei ferido.
Sei que cada uma é uma só e o seu oposto.
Um pecado original repetido.
E se sei isto… porque me roem afinal as térmitas os dedos?
2 comentários:
Aqui estive com muito prazer a visitar este espaço que desconhecia.
Deste poema gostei imenso. Prometo voltar. E já agora, fiquei sem saber qual o teu poema mais formoso, aquele que dizes sarcástico. Bocaje foi, esencialmente, um poeta sarcástico...e pudessemos nós alcançar seu estro!
Eu não possuo esse dom, mas aprecio-o nos outros.
Parabéns e um beijo
Bernardete
Bolas, José! No comentário Bocage ficou com erro, nem sei como!!!
No meu tempo dizia-se erro de palmatória...Foi corrigido, só que não ficou registada a correcção!
Mais um abraço,
Bernardete
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