domingo, 15 de fevereiro de 2009

A morte olhou-me hoje no rosto





"O teu sorriso viverá em nós para sempre"


A morte olhou-me hoje no rosto. De soslaio numa curva discreta.
Vinha ao volante da incúria e tinha borbulhas na face. Ainda sinto na pele o seu hálito a mentol, o seu perverso beijo.
Trago-a nos olhos desde a manhã de hoje, mas já não tem expressões, nem traços, nem rosto nem face, a morte que vive agora dentro de mim. Só uns olhos morenos que me espreitam na curva apertada do meu ser. A eternidade de um momento vivido.
É assim que se morre, agora sei.

Amanhã não existe nunca. Assassinaram a esperança num bairro do Porto.
No Aleixo a saltar ao eixo, meu amigo de lata, meu pobre amigo da desgraça, morreu só.
Chamava-se outra vez Luís, mais uma vez Luís, o meu amigo que partiu sem me avisar.
Estou ainda a boiar nesse tanque de desassossego por ti.
Drogar-me-ei de saudade até ao fim dos meus dias, até me secarem as veias de ódio a quem te ceifou a juventude, até a consumir toda.
Chamava-se Luís, outra vez Luís, mais uma vez Luís, o meu amigo que a morte levou. A morte que hoje me olhou, a saltar ao eixo na curva pronunciada da minha demora.
No rosto as lágrimas rasgam-me a carne como punhais.

Não sei porque razão afinada, aqui ao meu lado, Beatriz canta uma canção que aprendeu na escola.
Sigo na melodia para uma página em branco, disposto a dizer à vida que a amo, apesar de conhecer a morte por dentro, e seja isso a primeira das últimas coisas que hoje farei.

1 comentário:

*Lisa_B* disse...

José
Infelizmente a morte chega sem aviar na maior parte dos casos e assim de surpresa custa aceitar.
Tenho um amigo que vai morrer mas ainda não sabe...eu sei :-( ele não.
É triste!
Bj