sábado, 8 de setembro de 2007

Poema:"A tristeza matou os peixes que nadavam nos teus olhos"


A tristeza matou os peixes que nadavam nos teus olhos
envenenou-os de um fel sem nome
numa mágoa sem praia ou areia
onde estender o teu sorriso antigo
agora branco de uma cal egípcia
que te pinta o rosto
e te seca os veios.

A tristeza matou os peixes
que já não procriam no sol posto
nem desovam no delta dos teu seios
nem saltam os obstáculos dos açudes
imponentes e viçosos
como quando te davas em feixes
nos dias quentes de Agosto

A tristeza matou os peixes
secou os lagos dos teus desejos
levou para o mar todo o sal
que trazias ancorado nos teus beijos.

Agora és um barco encalhado
num lodaçal de deslizantes enguias
que serpenteiam pelo teu ser adentro
extasiadas pelo cheiro podre da madeira
e te povoam o ventre molhado
na contagem decrescente dos dias.

Esse pássaro que risca o céu
saudoso dos peixes em boliço
e avista a tua carcaça no ilhéu
é a tua alma
mas tu não sabes disso.

in: "A tristeza matou os peixes que nadavam nos teus olhos"
Corpos Editora - Vila Nova de Gaia - Junho/2007

2 comentários:

mariaminha disse...

adorei...gosto de todos os dias ler uma história... e as tuas são...

Cleopatra disse...

uff....... sem comentários.